“Para mudar o mundo é preciso primeiro mudar a forma de nascer.”
Michel Oden
(obstetra francês e entusiasta do parto natural)
Recentemente acompanhamos na mídia um caso estarrecedor que envolveu um momento sublime e de grande vulnerabilidade física: o parto.
Toda a repercussão e discussão a respeito do ocorrido nos leva a pensar em uma situação antagônica que deveria ser regra absoluta e impedir que situações como aquela sejam possíveis. Trata-se do parto humanizado. Parece até redundante chamar assim, porem, precisamos evidenciar a importância da humanização na área da saúde. Especialmente no que diz respeito à saúde da mulher.
Afinal, o que é parto humanizado?
Segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde, o parto humanizado compreende conjunto de cuidados na assistência ao nascer respeitosos, que mantém a dignidade, privacidade e confidencialidade, garantindo a ausência de maus tratos e possibilitando a escolha informada. Assim, promove-se comunicação eficaz entre os prestadores de cuidados e parturientes, garantindo acompanhante livremente escolhido gestante e puérpera durante todo o tempo do pré ao pós-parto.
Vale reiterar que parto humanizado não se trata de um tipo de parto que conte com luzes mais baixa, ou presença de acompanhantes ou banheira. Não é sobre isso, e inclusive, pode ser que nenhuma dessas variáveis estejam disponíveis. A humanização do parto trata-se de um conjunto de garantias de direitos no processo de parir, e não, um pacote de serviços a serem oferecidos para gestantes.
Assim, espera-se que um parto humanizado garanta respeito aos direitos das mulheres, tenha uma boa comunicação estabelecida para lidar com um momento tão sensível da vida da mulher e leve em consideração expectativas, individualidades, vontades e limitações desta.
É importante destacar que durante a gestação a mulher deve ter acesso a um importante documento chamado “Plano de Parto”. Esse é um dispositivo informativo e de participação ativa no planejamento do parto. Nele, elencam-se situações relevantes que devem ser conversadas com o profissional de saúde que acompanha a gestante antes do inicio do trabalho de parto, levando em consideração que durante o parto, há menor disponibilidade e consciência da parturiente para expressar seus posicionamentos. Ele irá servir como guia sobre os acordos e condutas que possam ser necessárias (e desnecessárias) durante o parto. É uma forma de antecipar cenários e promover o parto que toda mulher merece e deseja: respeitoso e seguro!
Sobretudo, o plano de parto é uma estratégia contra a violência obstétrica, termo que tem sido usado há pelo menos 20 anos para caracterizar procedimentos físicos, psicológicos, verbais ou até mesmo sexuais, explícitos ou ocultos, de caráter violento cometido contra a mulher e sua família, por profissionais em instituições de saúde, no momento do pré-natal, parto, pós-parto ou na assistência ao aborto.
Segundo a pesquisa “Nascer no Brasil” da Fundação Perseu Abramo, realizada no Brasil em 2010, uma em cada quatro mulheres que parem no pais sofre algum tipo de violência obstétrica.
A Organizacão Mundial da Saúde-OMS traduz violência obstétrica como a apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres por profissionais de saúde, ao submetê-las a patologização dos processos naturais do parto, uso abusivo de medicações, a tratamento desumanizado, resultando na perda de autonomia da mulher e retirando delas condições de decidir livremente sobre seus corpos e sexualidade.
O Estado brasileiro de direito ainda é omisso em tipificar sobre o que seria a violência obstétrica, ou seja, na constituição do Brasil essas duas palavras (violência obstétrica) ainda não são escritas juntas, embora sejam impetradas há tantos anos. Dessa forma, os agentes de saúde que praticam as condutas definidas pela OMS como violência obstétrica, permanecem impunes, e o Estado que deveria tutelar direitos e resguardar a dignidade de todas é mais um dos autores silenciosos desse crime.
Caso você queira saber mais sobre parto humanizado, plano de parto, acesse fontes confiáveis como o site da OMS , Ministério da Saúde, Febrasgo – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia ou agende uma consulta.